Andrea Petkovic diz que 'estava preparada para odiar' o filme "Challengers", mas saiu da sala a achar que viu o "melhor filme de ténis" da história do cinema.

Aclamado pelos críticos e profissionais da modalidade, o filme de Luca Guadagnino foi mais visto nos cinemas da América do Norte e Portugal na primeira semana de exibição e mostra um triângulo desportivo e amoroso formado por um prodígio que se reformou prematuramente após uma lesão (Zendaya), o marido (Mike Faist) e o ex-amante dela e ex-melhor amigo dele (Josh O'Connor), com passado e presente a colidirem durante um torneio.

"Estava pronta para o ver falhar. Para contextualizar, joguei no circuito de ténis durante 16 anos e reformei-me no US Open há dois anos. Provavelmente nunca ouviram falar de mim. Há duas razões para isso. Com um 'timing' perfeito, reformei-me ao mesmo tempo que a Serena Williams. Razão número dois: nunca tive a carreira da Serena. Não faz mal. Pode-se prosperar de muitas outras maneiras", escreveu Petkovic num artigo publicado na sexta-feira no jornal britânico "The Guardian" em jeito de apresentação.

"Estou a dizer isto para que possam perceber por que estava pronta para odiar 'Challengers'", acrescentou a antiga jogadora alemã, que chegou a número 9 no ranking mundial feminino em 2011 e somou sete títulos no circuito profissional, antes de recordar um "trauma" provocado por outros filmes à volta da sua modalidade.

"Nem todos são maus (embora alguns sejam), mas retratam o ténis às vezes de formas erradas e outras ridículas. Kirsten Dunst a testar o aperto das suas cordas ao bater na estrutura da raquete só para que uma se parta precisamente naquele momento no filme 'Wimbledon' assombra-me até hoje. Quem permitiu que isso acontecesse?", critica.

Petkovic reconhece que é difícil fazer bons filmes à volta da temática desportiva porque abusam dos momentos dramáticos e sentimentais.

"'Challengers' não é isso. É algo totalmente diferente e, alerta de spoiler, adorei. Nunca pensei que escreveria estas palavras, mas é um filme desportivo muito sexy. O que é interessante é que isso é a única coisa errada sobre o ténis que tem. Pode ser gracioso e até bonito quando jogado pela pessoa certa, mas não é sexy", nota.

“'Challengers' acerta em todos os outros detalhes sobre o ténis, como se o filme em si tivesse jogado no tour durante mais de 10 anos", destaca, citando por exemplo o pormenor dos calções "da era de Pete Sampras" usados por Patrick Zweig (O’Connor), "um item básico no guarda-roupa de qualquer jogador challenger – eram resistentes e indestrutíveis, um requisito quando mal se tem dinheiro para pagar um hotel".

"Da apresentação dos quartos em redes de hotéis sem alma às marcas do court, das cadeiras brancas para os espectadores às roupas dos árbitros, de ninguém reagir no balneário enquanto um dos colegas enlouquece com uma raquete de ténis até às perfeitas alpercatas WAG Chanel da Tashi [Zendaya], o design de produção merece um lugar, se não nos Óscares, pelo menos no Tennis Hall of Fame", elogia.

Apesar das cenas de ténis propriamente ditas serem boas, a antiga semi-finalista de Roland Garros reconhece: "os atores fazem um trabalho mais do que louvável, mas é óbvio para um ex-profissional que não jogaram ténis seriamente quando eram miúdos".

“Faist chega mais perto de fazer resultar, mas possivelmente porque ele se parece muito com David Goffin, um ex-jogador do Top 10. O apelo de Zendaya como estrela de cinema é mais forte do que qualquer técnica de ténis alguma vez poderia ser. No entanto, o herói secreto do filme é O’Connor e o seu carisma diabólico. Simplesmente não se consegue tirar os olhos dele e do seu pequeno sorriso presunçoso", descreve.

"Não é o melhor filme que já vi. Mas é o melhor filme de ténis. Talvez até o melhor filme de desporto. Peço desculpa, 'Moneyball'", conclui.

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